Começo esclarecendo: não é uma metáfora. Embora
seja perfeitamente cabível falar sobre o lixo que se figura num sistema
vendido, o lixo das práticas corruptas, dos próprios políticas sujos – que nem
uma “ficha limpa” conseguiu jogar para fora – não começo tão torridamente este
escrito.
Propaganda
política polui as vias públicas (Foto: Ricardo Alves)
O lixo,
neste primeiro momento, está empregado no seu sentido denotativo. E, como é
tradicional de um cronista, escrevo sobre ele pelo contato que tive. Não eram
sete da manhã e precisei caminhar pelas ruas de minha cidade. A flutuação pelo
vento de pequenos papéis retangulares, logo na porta de minha casa, já
anunciavam o que estava por vir no meu trajeto. E não precisei andar muito para
me deparar com incontáveis santinhos, panfletos, adesivos, e tantos outros
materiais gráficos misturados, estampados com rostos e números. O lixo
político.
Aquela cena se constataria desde os meus primeiros
passos até o fim do meu percurso – e em quantidade crescente. Involuntariamente
me vinha à cabeça uma analogia com a maneira com que se faz política neste
país: que sujeira.
Questionei-me sobre os efeitos da expressão “não
jogar em via pública”, que acompanha cada publicação que estava no chão. Parece
que na política do Brasil fazemos tudo ao contrário. Cobra-se eficiência na
gestão pública, e somos lesados por uma administração incompetente. Quem rouba
tem que ser preso, e uma turma de mensaleiros está dando sopa por aí, alguns
até querendo gerir no estado ao lado. Não se deve vender o voto, e o trocamos
por galinhas – talvez ‘louros’ tenha uma conotação melhor.
Continuando no meu caminho, dois meninos a brincar
me chamaram atenção: sem camisas, aqueles pobres coitados, de no máximo doze
anos de idade, conseguiam aproveitar o envolto para se divertir. Jogavam para
ar os montes de papeizinhos que se agrupavam entre a rua e o meio-fio. E mais
reflexão: “à massa, distração e entretenimento enquanto passam necessidades em
casa. Eis a nossa suja política”.
No fim de caminho, algo que era óbvio desde o
começo pairava no pensamento. Éh, hoje é dia de eleição. Vão limpar a casa,
tentar jogar o lixo fora. O pior é que não me surpreende que sujem tudo outra
vez.
Ricardo Alves
0 comentários:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.